Friedrich Ratzel vs Paul Vidal de La Blache. Por que são nomes tão importantes que você deve conhecer?
Friedrich Ratzel (1844-1904) foi um geógrafo que teve como principal obra o livro Antropogeografia – fundamentos da aplicação da Geografia à História(1882) onde muitos acreditam que fundou a Geografia humana.
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Nela Ratzel definiu o objeto geográfico como o estudo da influência que as condições naturais exercem sobre a humanidade, ou seja, tais condições naturais “moldaria” o caráter humano, onde este refletiria na sociedade tanto em suas posses como na sua cultura; neste caso a situação natureza > homem (natureza delimita o homem). Para ele o homem precisaria utilizar os recursos da natureza, para conquistar sua liberdade pois a medida que a sociedade se expande ela necessitaria de mais recursos, se eles eram escassos a sociedade não se desenvolvia (aí que surge o termo “espaço vital”), se a sociedade dependia da natureza teria de a proteger por isso segundo ele “Quando a sociedade se organiza para defender o território, transforma-se em Estado”.
Para entender melhor essas formulações é necessário se colocar no espaço/tempo em que eles às postulou, que foi justamente durante a formação real da Alemanha e a seu processo de expansão. Para que a unificação se concretizasse houve uma guerra entre os dois reinos, Áustria e Prússia (1886), que culminou com a vitória da Prússia, que veria então a exercer forte influência no estado em formação como por exemplo: a organização militar tanto social como estatal, o espirito nacionalista e uma política externa extremamente agressiva. Este país emergia como mais uma unidade do centro do mundo capitalista, industrializada, porém sem colônias devido sua unificação tardia. Ratzel vai ser um representante típico do intelectual engajado no projeto estatal; sua obra propõe uma legitimação do expansionismo bismarckiano, chegando a exaltar e comparar o Imperialismo a “uma luta pela sobrevivência”.
A geografia “Ratzeliana” privilegiou o elemento humano e abriu várias frentes de estudo, com um foco mais para as questões históricas/espaciais , como: a formação dos territórios, a distribuição da humanidade na Terra (migrações, colonizações, etc), o de povos isolamento e o que causaria aos mesmos , além de estudos monográficos das áreas habitadas; mas sempre considerando as imposições naturais e não sociais sobre o homem como já citado anteriormente.
Em termos de metodologia a Geografia “Ratzeliana” não expos grandes novidades manteve ela como uma ciência sintética de base empírica e naturalista, mesmo apesar de propor que ela deveria ser observada como umm todo não somente de uma forma regional como ele mesmo propõe “ver o lugar como objeto em si, e como elemento de uma cadeia”.
Os discípulos de Ratzel colocaram suas formulações de um modo muito radical simplificando-as, tomando por base nos seus estudos a máxima “o homem é um produto do meio” (onde Ratzel colocava apenas a influência do meio no homem) e formaram o que hoje se chama de “escola determinista” ou “determinismo geográfico”.
A importância de Ratzel na Geografia foi grande pois, ele trouxe temas que até então não eram abordados por ela (econômicos e políticos) e por fim colocou o homem com um ser central nas suas análises mesmo que este fosse visto por ele apenas como um animal, ao não diferenciar as suas qualidades específicas.
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De outro lado, temos Paul Vidal de La Blache (1845-1918) que foi um geógrafo francês e um dos nomes mais lembrados no que se refere à história do pensamento geográfico. Sua obra é bastante reconhecida por ser fundadora da corrente de pensamento que veio a ser denominada por Possibilismo, em oposição ao Determinismo Geográfico alemão. Vidal também foi considerado o fundador da escola regional francesa.
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La Blache rejeitava a ideia preconizada por Friedrich Ratzel e principalmente de seus discípulos que caracterizaram a escola alemã de geografia, onde as condições naturais do meio influenciavam e determinavam as atividades humanas e a vida em sociedade. Para Vidal, o homem também transformava o meio onde vivia, de forma que para as ações humanas, diversas possibilidades eram possíveis, uma vez que essas não obedeceriam a uma relação entre causa e efeito.
Graças à sua formação, La Blache trouxe para a Geografia a importância do tempo e da história para os estudos geográficos. Foi considerado, por isso, um dos grandes responsáveis pela difusão da Geografia Humana, apesar de afirmar que a Geografia não deveria estudar o homem, mas o meio em que ele vive.
La Blache também defendia a prática de uma Geografia Regional. Para esse pensador, seria impossível, ao menos naquele momento, alcançar visões totalizantes para a realidade, de forma que os conhecimentos e os conceitos só deveriam ser aplicados em realidades específicas. Por isso, incentivou e participou de muitas monografias regionais, isto é, estudos que se preocupavam apenas com uma determinada região e que se caracterizavam por serem extremamente descritivos.
Por isso, o conceito de região foi muito importante em sua obra. Na teoria lablacheana, esse conceito estava associado às paisagens naturais, de forma que uma região existia no espaço independente da vontade humana, cabendo aos cientistas apenas identificá-las e expor suas características. Tal conceito foi mais tarde criticado (um dia farei um post sobre essa polêmica regional).
Outro conceito muito importante em sua obra foi o de Gênero de Vida. Para La Blache, as regiões constituíam um meio vivo que proporcionaria o desenvolvimento das sociedades. Com a utilização dos recursos regionais naturais, a vida em sociedade constituiria, então, o que se denominou por gêneros de vida.
A partir desses conceitos e de um método que se caracterizava por ser uma sequência entre observação, comparação e conclusão, Vidal se tornou um dos maiores nomes da ciência geográfica e contribuiu para alavancar a Geografia Francesa para se opor e apresentar-se enquanto alternativa à Geografia Alemã e as suas intenções geopolíticas.
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REFERÊNCIAS
MORAES, Antônio Carlos R. A gênese da Geografia Moderna. São Paulo: HUCITEC, 2002.
OLIVEIRA, A. U. de. (Org.) Para onde vai o ensino de Geografia? São Paulo: Contexto, 1989.